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O desafio da interoperabilidade de dados em saúde digital

By P5 |
Outubro 29, 2025 |

O desafio da interoperabilidade de dados em saúde digital

Nos últimos anos, a saúde digital tem crescido exponencialmente, introduzindo uma série de inovações com potencial para transformar os cuidados médicos, melhorar a eficiência dos sistemas de saúde e proporcionar uma experiência mais personalizada aos pacientes. Contudo, um dos seus maiores desafios é a interoperabilidade de dados. Este conceito refere-se à capacidade dos diferentes sistemas e plataformas trocarem informações de forma eficaz, independentemente das tecnologias ou plataformas subjacentes.

No setor dos serviços, a sua relevância tem sido reforçada pela progressiva digitalização dos processos e crescente utilização e partilha de dados. Apesar disso, os sistemas de informação em saúde ainda apresentam dificuldades evidentes a este nível. De forma a priorizar esta questão, o plano Recuperar Portugal, através do Plano de Recuperação e Resiliência, inclui um conjunto de atividades estratégicas. Estas medidas visam melhorar a interoperabilidade entre os diferentes sistemas de informação em saúde e permitir uma comunicação mais fluida e segura entre entidades.

Interoperabilidade em saúde: Que vantagens?

A interoperabilidade de dados em saúde é crucial para garantir que as informações dos utentes possam ser partilhadas, de forma segura e eficiente, entre diferentes prestadores de cuidados, sistemas hospitalares e outras entidades de saúde. Por outro lado, a interoperabilidade entre prestadores públicos, privados e sociais, farmácias, outras instituições de saúde e até tecnologias digitais tem o potencial de contribuir para melhores resultados em saúde, uma vez que permite obter informação mais completa sobre o utente (proveniente de diferentes fontes), facilitar a decisão clínica partilhada, evitar duplicação de exames e otimizar a vigilância epidemiológica.

A interoperabilidade é um passo fundamental para melhorar a compreensão de fenómenos de saúde e doença, otimizar os cuidados e melhorar a eficiência dos serviços. É essencial para informar decisões de qualidade em saúde individual, institucional e pública. Com a troca eficiente de dados entre sistemas, é possível oferecer cuidados mais coordenados e personalizados, evitar erros médicos causados por informações incompletas ou desatualizadas e otimizar os processos administrativos. Ao promover a interoperabilidade, reduzimos custos, aumentamos a confiança e melhoramos a qualidade do atendimento ao utente.

Interoperabilidade em saúde: Que desafios?

Apesar das vantagens, a interoperabilidade de dados em saúde enfrenta um conjunto de desafios técnicos, jurídicos e organizacionais. Muitos sistemas de saúde ainda operam com plataformas e tecnologias antigas, que não são compatíveis entre si. Além disso, lidam com informação sensível, o que exige soluções robustas e seguras. A diversidade de padrões de armazenamento de dados e protocolos de comunicação, falta de harmonização entre sistemas antigos e mais recentes, a ausência de infraestruturas tecnológicas, conectividade limitada, e os elevados custos financeiros associados à modernização agravam o problema.

Por outro lado, a falta de uma norma universal de interoperabilidade é, também, um desafio significativo. Existem esforços globais, como os desenvolvidos pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e pela HL7, para criar padrões e facilitar a troca de dados. Contudo, a implementação dessas normas tem sido muitas vezes lenta e irregular, devido à diversidade de sistemas e processos envolvidos. Assim, enquanto alguns países já utilizam plataformas digitais interoperáveis, outros ainda lutam para garantir a uniformidade de dados e processos.

Por último, mas igualmente importante, encontra-se o desafio relativo à privacidade e segurança das informações. Os dados de saúde são extremamente sensíveis e a violação de privacidade pode ter consequências graves. Assim, qualquer sistema que promova a interoperabilidade deve ser projetado com fortes medidas de segurança e em conformidade com as regulamentações locais e internacionais, como o Regulamento Geral de Proteção de Dados (GDPR). É fundamental garantir a privacidade e a segurança da informação e ser capaz de transmitir confiança aos profissionais de saúde e utentes. Por fim, os utentes devem participar ativamente neste processo. Devem ter a capacidade para decidir quem pode aceder aos seus dados, em que circunstâncias e com que finalidades. A autodeterminação informada é uma peça fundamental para garantir uma interoperabilidade ética, segura e centrada na pessoa.

Interoperabilidade em saúde: Que soluções para a União Europeia?

A Comissão Europeia propôs a criação de um Espaço Europeu de Dados de Saúde (EEDS). Este sistema de partilha de dados pretende dar resposta aos desafios específicos da saúde para o acesso e a partilha de dados eletrónicos. O EEDS contribuirá para um espaço comum, onde os cidadãos possam controlar facilmente os seus dados de saúde eletrónicos. Ao mesmo tempo, investigadores, inovadores e decisores políticos poderão utilizá-los com segurança e fiabilidade para fins legítimos e bem definidos.

Com o EEDS, será possível reforçar a continuidade dos cuidados, acelerar a inovação e desenvolver políticas públicas mais informadas.
A interoperabilidade deixará de ser apenas um objetivo técnico e tornar-se-á um instrumento fundamental para a equidade, eficiência e confiança nos sistemas de saúde.

Referências:

Caridade, L.M. (2023). Os hospitais em Portugal estão igualmente preparados para a privacidade e interoperabilidade dos dados? Avaliação da conformidade dos sistemas de informação das entidades de saúde hospitalar públicas e privadas, face às recomendações do modelo europeu de partilha do RSE e do RGPD (Tese de Mestrado). Universidade de Coimbra. Consultado em: https://estudogeral.sib.uc.pt/handle/10316/109556.
Comissão Europeia (2022). Proposta de regulamento do parlamento europeu e do conselho relativo ao Espaço Europeu de Dados De Saúde. Consultado em: https://eur-lex.europa.eu/legal-content/PT/TXT/?uri=CELEX%3A52022PC0197&qid=1739184136891.
Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida (2019). Acesso aos Dados de Saúde: Tomada de Posição. Consultado em: https://www.cnecv.pt/pt/deliberacoes/tomadas-de-posicao/acesso-a-dados-de-saude.
Conselho Nacional de Saúde (2024). Para um Melhor Sistema de Informação de Saúde ao Serviço das Pessoas. Consultado em: https://www.cns.min-saude.pt/2024/06/03/para-um-melhor-sistema-de-informacao-de-saude-ao-servico-das-pessoas/
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